Desde que cheguei em Campina Grande para estudar o curso de jornalismo, no antigo prédio da Faculdade de Comunicação Social, no São José, lá na primeira década do século, ouço essa inóspita discussão acerca da programação do ‘Maior São João do Mundo’.
Todo ano vem à tona, independente do gestor, o embate entre o cultural e o estilizado no Parque do Povo, com críticas ao aumento da presença de ritmos e de artistas, que sequer tem identidade com a essência da festa.
Mesmo alheio aos meandros da festa, pois não sou adepto a ela, nem frequentador do Parque do Povo, me atrevo a analisar o problema do ponto de vista financeiro: Não se consegue realizar um evento dessa magnitude totalmente cultural sem ter que aportar dinheiro público.
É fato que a indústria publicitária brasileira só investe, e pesado, em eventos onde as atrações atraem milhares de pessoas, o que não acontece em festas puramente culturais. O Brasil vive com intensidade uma crise cultural identitária muito forte e crescente. A cada momento somos engolidos por uma avalanche de modinhas e rótulos, muitos deles importados.
Esse é um problema denunciado inúmeras vezes pelo escritor Ariano Suassuna da nossa formação educacional, que permitiu ter nossa rica cultura marginalizada e esquecida ao ponto de termos um DJ se apresentando em uma festa de São João.
No entanto, do ponto de vista financeiro, o DJ atrai mais público e patrocinadores que um artista genuinamente forrozeiro. E aí, como resolver essa equação? Pega dinheiro público e paga uma festa para manter 100% a tradição ou faz a contratação de uma empresa para gerenciar o evento sem custos ao poder público?
Se fizer um ou outro, o gestor de plantão vai sofrer críticas!
Bom mesmo foi nos anos de 2020 e 2021, quando não houve São João e a preocupação máxima do povo era sobreviver ao coronavírus. Onde o debate era mais idiota ainda: tomar ou não a vacina contra a covid-19, não é?